Quem manda são elas

Elas são, em suas próprias palavras, “homens de saia”. São “altamente profissionais”, “multimídia” e verdadeiras “camaleoas” capazes de conciliar bem a “razão e emoção” enquanto se dedicam a “conquistar novos clientes todos os dias, o mesmo marido todos os dias e ainda atender as necessidades dos filhos com dedicação e presteza”. E quem são elas, afinal? São as Paulas, as Valérias e as Anas; e as tantas que se espalham por todo o mundo e cada vez mais. São mulheres que não se contentaram em poder trabalhar fora, mas quiseram fazer isso podendo também gerenciar o próprio negócio.

O fato é que as mulheres estão empreendendo mais, e as brasileiras têm contribuído para isso de maneira bastante significativa. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da GEM Brasil, feita no ano passado, 2012, demonstrou que 49,6% do total de empreendedores iniciais no país eram mulheres. E se elas já estão quase empatando em atuação com os homens no território nacional, em algumas regiões do Brasil, como o Sul e Nordeste, elas já são a maioria, formando uma percentagem de 51,8% dos empreendedores iniciais nestas regiões.

Para o psicólogo Bruno Carneiro de Oliveira, da Organização Social de Saúde Santa Marcelina, esse aumento no número de empreendedoras se justifica por uma maior busca da mulher por liberdade e independência num contexto atual, em relação às mulheres de algumas gerações atrás. “O homem, ao longo de sua história, promoveu mudanças e revoluções muito significativas no mundo, onde o que estava em jogo eram a liberdade e independência. Hoje, para a mulher não é diferente, como qualquer ser humano também está em busca de liberdade e independência e dentro desse aspecto nada como ser empreendedora e dona do próprio negócio”, afirma.

Mais participativas nos processos de transformação do mundo, as mulheres estão revolucionando um passado que já foi marcado por submissão e vínculos puramente emocionais, e que outrora davam exageradamente margem para uma confusão de seu próprio espaço e potencial ativo no planeta.  Para as empreendedoras, essa mudança implica em um desejo ainda mais forte por liberdade e independência financeira, além de uma vontade e percepção transformadora da realidade social a partir de sua maior atuação na economia e assumindo a gestão de uma empresa.

Aliás, é desse olhar atento ao outro e suas vantagens que fala a empreendedora Ana Helena Simões Venturelli, da Side by Side Idiomas, quando questionada sobre o que é ser empreendedora nos dias atuais. “A mulher empreendedora moderna é altamente profissional, multimídia e, para além da empresa que dirige, está sempre atenta ao bem-estar de sua família e da sociedade em geral”, diz Ana. Para ela, a gestão feminina contribui também para melhores relações com a equipe de trabalho, pois, “apesar da emoção fazer parte de suas decisões, [a empreendedora] possui ótimo relacionamento com a equipe, o que reflete em menor rotatividade [de funcionários]”.

Mas o empreendedorismo feminino também promove outras particularidades, já que a mulher não abdicou do lar para se tornar empreendedora, mas sim planejou seu tempo de forma eficiente para que pudesse ser hábil no trabalho fora de casa, mas sem comprometer a qualidade de suas relações enquanto mãe e esposa.  “A mulher empreendedora é aquela que corre e assume riscos, mas não deixa de se planejar. É aquela que é criativa, dinâmica, de iniciativa, que é capaz de abrir mão, no momento certo, e sabe separar os aspectos emocionais e racionais de uma relação, adéqua-se a duplas jornadas de trabalho (casa, filhos, esposo X negócio próprio)”, explica o psicólogo Bruno Carneiro de Oliveira.

“Ser uma mulher moderna requer muita habilidade, não apenas por ser empreendedora e gerenciar seu negócio ou sua empresa, mas sim conciliar a vida profissional com a vida de mãe, filha, amiga, esposa, irmã, tia e etc. Ser moderna é oscilar entre uma mulher de ferro e dócil durante todo o seu dia com mudanças de camaleoa para se adequar a cada situação imposta”, afirma a empreendedora Paula de Almeida, do Restaurante Portal.

A empreendedora Valéria Celidônio, do Portal San Transporte Executivo, também admite que a rotina da mulher que empreende é bastante agitada e desafiadora. Para ela, a vitória da empreendedora moderna reside exatamente em levar cada parte desse desafio com maestria. “Se os seus clientes aprovam os seus planos de negócios, sua empresa cresce a cada dia; seu marido continua apaixonado por você; seu filho é um excelente aluno, uma criança saudável e educada… Parabéns! Você é uma mulher moderna, empreendedora e acima de tudo vencedora!”, define Valéria.

Se um dia as lutas feministas levaram mulheres às ruas para reivindicar direitos de participar da sociedade de forma transformadora, e não apenas como uma espectadora passiva, a empreendedora moderna endossa essa conquista e abre espaço para sua maior independência, tornando-se ela própria a autoridade que a conduz no mercado de trabalho. Mais que isso: a mulher que empreende também cria um ambiente que, por ser dela, lhe oferece espaço para que sua voz e visão de mundo atuem de forma transformadora de sua realidade, de seus funcionários e participem ativamente da realidade econômica e, consequentemente e até certo ponto, política, de onde vivem.